Aconteceu-me este fato intrigante:
Eu mal fechara os olhos e lá estava eu, uma gota d'água.
Total silêncio.
Uma gota d'água que se forma continuamente no limbo de uma folha curvada sobre um fio d'água corrente. Esta desliza para a extremidade e se desprende e pinga num lago transparente, cristalino.
Eu mal fechara os olhos e lá estava eu, uma gota d'água.
Total silêncio.
Uma gota d'água que se forma continuamente no limbo de uma folha curvada sobre um fio d'água corrente. Esta desliza para a extremidade e se desprende e pinga num lago transparente, cristalino.
Eu
podia ouvir o barulho da gota intumescer, se desprender e ir caindo
até colidir no espelho d'água. E o som dos seus respingos nas
pequenas ondas do lago eram quase inaudíveis. Era como um suspiro
que cismo haver entre notas nas sinfonias de Beethoven.
E aquilo era eu: a gota, a vida. É como pensava eu mesmo sobre mim, sentado na pedra me observando.
E aquilo era eu: a gota, a vida. É como pensava eu mesmo sobre mim, sentado na pedra me observando.
Deitado,
meditando e tentando dormir, senti receio de mover corpo físico e
mente e quebrar aquele ritmo. Sou eu, é a vida, pensei. Senti a veia
aorta dolorida, latente a jugular. Percebia gota a gota meu sangue
fluindo. Em gotas?!
O
que sou? Nasci. Deram-me um nome. Tive pressa de falar, andar,
correr... E como corri! Acelerei o tempo.
Eis
a luz do mundo. Logo queremos ser crescidos, adolescentes, jovens.
Logo desejamos acrescentar umas letras a mais antes do nome. Depois,
depois. Palavras, títulos, mais nomes.
Aceleramos
o tempo e nele se cria vácuos, intervalos quase imperceptíveis no
percurso da vida. Às vezes, de vez em quando, por sorte, somos
sacudidos por uma colisão, um abalo sísmico.
Aí
queremos desacelerar. Mas os pés se fizeram-se de chumbo. Estão
pesados demais, presos aos minérios do chão. E você vê que correr
não fora boa opção. Mais vale desprender-se e voar. Mas como?
E
quer ser novamente um pouquinho mais jovem _ sonhar de regresso. Quer
a juventude, a adolescência, a infância, quer correr sem sair do
lugar, quer colo, quer abrigo, quer silêncio... Gota d'água.
Aí
a gente conclue que quer apenas ser o que fora antes de ter nome. Ser
o simples ser perfeito, tão imensamente pequeno universo divino,
compacto, simples fruto do amor, chamado simplesmente milagre:
presente de Deus.
Entanto,
por sorte, é hora de dormir.
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