(Do livro "Só para os íntimos", por Poetray, em breve no Agbook)
No dia seguinte eu fiquei só com os meus pensamentos. Quando o ônibus deu partida ela ainda não havia chegado. Após a primeira curva eu a avistei vindo apressada, mas estava longe. Havia outras mulheres, tão bonita quanto, bem pertinho de mim, embora atraentes não vi nada que inspirasse nenhuma sacanagem. Uma até invadiu meu pequeno espaço entre os bancos. Mas o pensamento na lembrança da mulher ausente predominou.
Dois dias depois, numa sexta feira, ela entrou
no ônibus e ficou exatamente encostada em mim, esfregando a xoxota no meu
ombro. Titubeie no que fazer. Ofereci o lugar.
_ Sente-se, por favor.
_ Obrigado _ Ela sorriu lindamente _, eu estou
bem.
Ofereci-me para segurar a bolsa. Era cara, de
marca, couro legítimo. Deixei a bolsa no colo, o que foi muito útil para
esconder a manifestação do garotinho querendo saltar para fora. E a blusa que
ela trazia no braço escondia o meu ombro encaixado entre as suas coxas. Parecia
estratégia. Juro que em pouco tempo senti cheiro forte, adocicado, de mel e
flores ao sol. Ao olhar para cima, para iniciar uma conversa duradoura, ela
mordeu os lábios e fechou os olhos. Fiquei sem palavras. Meu ombro começou dar fortes
impulsos, como se tivesse levando choque, como se soluçasse. Eu também fechei
os olhos. Concentrei-me no perfume. Flores do campo. O garotinho remexendo
dentro das calças se enforcava num pentelho. Tão desastrado, o pobrezinho.
_ Hei, acorde _ ela disse, me alisando os
cabelos e pegando a bolsa _ chegamos.
_ Nossa! Tão rápido né?
_ É verdade, que
pena.
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