Percebendo que eu estava triste e pensativo, ela disse:
_ Se joga, menino! _ disse e sorriu.
Não vou falar do sorriso dela nesse momento. Não agora. Mas
não resisto à tentação de antecipar que, alegre ou triste, é o que existe de
mais encantador nesse mundo. Mas vamos aos fatos.
O que fica nas sombras, por detrás das palavras ou detrás
no silêncio dos gestos, pode mudar nossas vidas se for interpretado
corretamente em tempo hábil. Mas a verdade esbarra na barreira do silêncio das palavras.
"Se joga!", ela disse.
Se bem que eu acho que não foi só isso...
Malditos códigos! As mulheres têm mania de falar claramente por meio de códigos. Não é sim, quero não quero, amo não amo. Às vezes é o que é o que se diz ser.
Malditos códigos! As mulheres têm mania de falar claramente por meio de códigos. Não é sim, quero não quero, amo não amo. Às vezes é o que é o que se diz ser.
Eu estava enfeitiçado por aquele sorriso. Como sempre, eu
estava encantado. Eu já o adverti mil vezes: "Raimundo, Raimundo, não a encare!
Não olhe nos olhos dela! Não repare no sorriso! Desvie o olhar.
Fuja!". Mas não tem jeito. E fugir pra onde? Como? Diante de tanta beleza!?
Eu já tentei antes. Fugi uma vez. E o que aconteceu? Alguma coisa ficou me
espetando o coração e a minha memória ficou me cobrando por não alimentá-la com
todos os detalhes daquele corpo e a lembrança daquele brilho no olhar espargindo
alegria. Ainda hoje me dói aqui ó! Cá pra nós, eu choro.
"Se joga, menino!”, ela disse.
Mas teve um complemento aí. Eu sei que teve. O
problema é que eu a olhei nos olhos e ela sorriu. Isso me desmonta. Bem... Ah!
Já sei! Eu me lembro agora. Quando ela se levantou pra ir fazer sei lá o que,
eu a observava como sempre; então, ao passar diante da minha mesa
piscadinha de olho, delicadamente, e disse:
_ Se joga, menino! _ sorriu e depois completou: _ Se joga pra vida. Não pense; se joga!
Foi isso.
Ela era a vida.
_ Se joga, menino! _ sorriu e depois completou: _ Se joga pra vida. Não pense; se joga!
Foi isso.
Ela era a vida.
Ela já havia me dito isso antes. Não fazia muito tempo não.
Mas as mulheres têm um método diferente pra contar o tempo. Contam o tempo como
se vivessem na Terra do Nunca. Eu nunca fui lá. "Se joga, menino!",
ela disse. Depois me chamou pra sair. Conhecer a família; sabe? Fiquei louco de
alegria. Mas não fui. Ela usava aliança e se casaria em poucos dias. E eu já
estava apaixonado.
Naquela época eu achei que não suportaria vê-la com outro
toda a noite de festa. Eu passei a
noite toda sozinho. A família havia viajado. Por certo estavam bem porque não
me mandaram nem uma mensagem sequer. Eu apaguei as luzes e fiquei no escuro, ouvindo
música clássica na maior altura. Era pra abafar o ruído dos fogos. Depois
faltou energia. Aqui sempre falta energia. Ah! Eu fiz um poema:
Noite de festa,
Noite de festa,
Estou só.
Todos viajaram.
Sol, mar, água de coco, mulheres, gente...
Por certo estão bem, ninguém se lembrou de mim.
Por certo estão bem, ninguém se lembrou de mim.
O mesmo se repetiu na passagem de ano. Mas aí eu resumi o
poema:
"Por certo estão bem, não se lembraram de mim.",
diz tudo né?
Por isso esse ano eu jurei: "Vou ficar com ela!"
Então quando ela sorriu pra mim eu também sorri pra ela e ficamos de frente, olho no olho. E que engraçado, ela disse de novo: "Se joga, menino! Não pensa muito não."
Então quando ela sorriu pra mim eu também sorri pra ela e ficamos de frente, olho no olho. E que engraçado, ela disse de novo: "Se joga, menino! Não pensa muito não."
Conversamos. Ela é incrível...
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