Adoro
O
jeito d’ela andar _ como pisa _ cuidadosa, acho que pra não machucar muito meu
coração; mas machuca. Machuca e eu gosto.
Gosto
e tenho ciúmes.
Um
ciúme diferente; um ciúme de encanto.
Tenho
ciúmes do chão...
Parece
que a cada passo que ela dá a terra treme em suspiros, e em ondas de desejo, que
só quem é da terra entende e possui, penetra-lhe nas veias e mexe com seu corpo
por inteiro.
Tenho
ciúmes do vento que lhe desarrumam os cabelos; e aquele riso...
Ah,
aquele riso. É como uma luz que cega. Um sol que me absorve e devolve à vida.
Aí, sou uma nova flor desabrochando.
Faz-se
assim minha loucura. E para o meu desespero e espanto, eu gosto. Gosto de tudo.
Pasmo.
E quando descanso
nos seus braços vejo o quanto é íntimo e raro nosso momento: O cara _ a sombra do espelho _ tem inveja
de mim, e ri oculto. O sol arruma uma brecha na janela, a lua sai antes da
hora, a vida grita e faz silêncio pela rouquidão sofrida; e o tempo para. Para
porque não tem pra onde ir. Mas tudo está ajustado.
E a gente anda leve,
conduzindo o tempo, na breve harmonia da vida imperfeita, para a desarmonia futura.
Sabemos, contudo, que vivemos pra isso: ajustar.
Adoro.
É como estar diante
do mar, imenso, olhando o por do sol, e saber que tudo aquilo é seu, somente
seu, e o amanhã é um novo dia.
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