Acordei em dia de festa
Meio pálido, cansado;
O corpo pedindo a rotina, a de sempre,
Mais um dia de trabalho.
Mas é feriado.
Pra que
correria?
Pra que
tédio de relógio atrasado?
Pra que sair
de casa?
Transporte nesses
dias é demorado.
Daí, melhor
vê TV.
E se vê na
tela coisas sobre o homenageado:
Tem muita
gente, São Paulo tem muita gente
São Paulo,
gente, tem gente, muita gente.
Gente, São
Paulo tem gente.
Tem gente
nas ruas, nas casas, nas enchentes...
Tem gente na
cracolândia, sexolândia, nas vententes;
De todo lado
tem gente. Enchente.
Não tem lei
eficaz que proíba a chuva de chover
Nenhum
programa que impeça a alma de chorar
E para quem
tem o vício do ofício, se para,
Para pra
trabalhar.
Ou para pra
se pensar.
E hoje
bastou um tempinho, na festa desta cidade,
Pra eu me
descobrir pensando;
Quem
envelhece sou eu.
São Paulo
não tem idade. Sempre cresce, e cresce na sua eterna adolescência; 460 anos
aprendendo a andar sempre pra frente.
Enquanto as
gentes envelhecem.
E envelhecem
gente
As vezes
anônimas, as vezes indigentes
Às vezes vivas,
às vezes mortas
Ou indiferentes.
A cidade
aniversaria e quem ganha presente sou eu:
Ganhei
consciência
Lembranças;
Autoafirmação.
Grato, São Paulo,
por abrigar-me as trincheiras do seu coração.
Sou grato por
esse dia
Que me fez
lembrar que tenho sotaque
E sotaque só
o tem que tem linguagem própria,
E o meu
idioma é o Mineirês.
Sou grato
pelo trabalho que me faz lembrar que meu trabalho de outrora era infância
verdadeira.
Não, não era
exploração infantil; era brincadeira séria que educa.
Lembrei-me
que tenho quintal. E pássaros.
E também
ainda sei imitá-los: o bem-te-vi, o sabiá, a juriti, o melro, o curió, o
azulão...
Ah! eu tive
um pássaro preto.
Hoje me lembrei
de que tenho Minas, em São Paulo, no baú da minha solidão.
Dizem que o
destino é a gente quem o faz.
Dizem.
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